Um alerta inconveniente

Notícia – 10 – set – 2013

Tendência de aumento no desmatamento na Amazônia dá o sinal claro de que o problema ainda existe – e vai aumentar se o governo não se mexer.

Área desmatada ao longo da BR-163, na região de Santarém (MT) (© Karla Gachet / Panos / Greenpeace)

O desmatamento na Amazônia voltou a subir no último ano e mais pode vir dentro de alguns anos, a não ser que políticas que aumentem a governança na região sejam colocadas em pé agora. Essa é a verdade inconveniente por trás do anúncio feito hoje pelo Ibama, em sua sede em Brasília, dos dados do Deter para o período agosto de 2012 a julho de 2013.

Neste período, foram detectados 2.765 quilômetros quadrados de desmatamento na Amazônia – 35% mais do que entre agosto de 2011 e julho de 2012. A maior área afetada foi registrada em Mato Grosso (1.184 quilômetros quadrados), seguido do Pará (787 quilômetros quadrados) e Rondônia (360 quilômetros quadrados).

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No Pará, o foco de alertas se encontra ao longo da BR-163. Rodovia que liga Cuiabá a Santarém, ela é um vetor de desmatamento na região desde que seu asfaltamento foi anunciado, há dez anos. Até hoje o plano BR-163 Sustentável, que previa a consolidação de um mosaico de áreas protegidas a seu redor, além de políticas de incentivo a uma economia que preserva a floresta, não foi totalmente implementado.

Outro ponto quente de desmatamento observado pelo Deter é a região sul do Amazonas – foram 252 quilômetros quadrados de floresta afetados no Estado, um crescimento de 81% em relação ao período anterior. Ali repete-se a história de grilagem, pecuária, exploração madeireira, mineração e violência que se viu em outras partes da Amazônia.

“O que acontece na BR-163 e no sul do Amazonas são dois exemplos de que a falta de governança e de políticas estruturantes são as maiores causas do desmatamento na Amazônia”, afirma Danicley de Aguiar, da campanha Amazônia do Greenpeace. “Mas o governo não faz ou não dá continuidade às políticas existentes. Enquanto isso, a gente perde floresta.”

Nem as áreas protegidas foram poupadas. Entre agosto de 2012 e julho de 2013, foram 179,3 quilômetros quadrados afetados por desmatamento ou degradação, um aumento de 26% em relação ao mesmo período anterior. A Flona do Jamanxim, no Pará, foi a campeã pela segunda vez consecutiva. Localizada nos arredores da BR-163, todo ano ela é alvo de pecuaristas ilegais e grileiros. Nem por isso tem recebido proteção extra.

O Deter é um sistema de alerta de desmatamento, que só mede polígonos com pelo menos 25 hectares, usado para as equipes de fiscalização irem a campo. Como não consegue pegar derrubadas menores, não serve para medir a área total de desmatamento: atualmente, cerca de 70% do que cai na Amazônia passa pela peneira do Deter. A medição oficial é feita pelo sistema Prodes, que enxerga áreas menores.

Estopim pronto

De acordo com o governo, o Deter trouxe outro alerta: o aumento expressivo de áreas degradadas na Amazônia. Elas são aquelas que passaram pelo corte seletivo, quando madeireiras tiram as espécies mais valiosas e deixam uma floresta mais rala e vulnerável ao fogo e ao corte raso.

Mais de um terço dos alertas checados em campo pelas equipes do Ibama entre agosto de 2012 e julho de 2013 eram casos de degradação.

O Ibama lançou neste ano uma operação específica para coibir a conversão dessas áreas. Se deixadas em paz, elas podem se regenerar. Mas nem sempre é o que acontece: as áreas degradadas são alvo preferencial de queimadas (propositais ou não), motosserras, tratores e correntões, que podem inflar os números de desmatamento da Amazônia nos próximos anos.

“O Deter possibilita que a fiscalização se desloque para o local do crime antes de o fato estar consumado. Mas esse aumento significativo da degradação também quer dizer que o processo de desmatamento está aquecido”, afirma Aguiar. “O governo diz que faz um esforço de fiscalização, mas ao mesmo tempo corta recursos dos órgãos ambientais e deixa a bancada ruralista solta no Congresso para enfraquecer as leis.”

É preciso dar um passo à frente e garantir que o Brasil cresça preservando suas florestas. Por isso o Greenpeace e outras entidades estão engajadas na construção de um movimento nacional em favor do Desmatamento Zero. Para saber mais, entre emwww.desmatamentozero.org.br.

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